Creio que estou certo, logo estou certo.

“Nossas crenças não repousam pacificamente em nossos cérebros esperando serem confirmadas ou negadas pela informação que recebemos. Pelo contrário, elas agem ativamente modificando a forma como vemos o mundo”.

Richard Wiseman

Já falamos anteriormente sobre a necessidade de nos mantermos informados sobre os acontecimentos a nossa volta, criada por nossa demanda legítima por segurança. É uma atitude bastante lógica e, nas devidas proporções, saudável e imprescindível.

Compreendermos o que nos rodeia gera segurança para continuarmos, principalmente em momentos problemáticos tais como este, onde uma pandemia repentina nos coloca em estado de emergência e confusão.

Ocorre que, esta demanda por certezas pode muitas vezes criar filtros que em vez de nos aproximar dos fatos, os distorce ou nos afasta deles.

Viés de Confirmação

Todos temos opiniões e crenças em relação ao mundo que nos circunda, mas, quantas vezes paramos pra pensar em como estas são criadas? Normalmente imaginamos que elas vêm da experiência, análises objetivas, questionamentos e, principalmente, informações.

Contudo, é preciso acrescentar nesta equação o fato de nós, no papel de receptores destas informações, não sermos recipientes vazios e absolutamente neutros, isto é, as informações que nos chegam são mediadas por, entre outras coisas, nossas próprias certezas criadas anteriormente.

A impossibilidade de absorvermos totalmente a imensa quantidade de informações que coletamos cria, muitas vezes, a necessidade de se filtrar seletivamente este conteúdo e, na maioria dos casos, absorver aquelas que apenas confirmem nossos modos prévios de pensar, descartando as demais.

Esta espécie de filtro cognitivo, que recebeu o nome de “viés de confirmação”, acaba por afetar toda nossa relação com as impressões que obtemos do entorno, qual parte delas retemos em nossa memória e, consequentemente, nossa maneira de ser e estar no mundo.

Para nos manter nesta espécie de “zona de conforto” mental e sem termos muita consciência do processo, passamos inclusive a buscar fontes e informações que corroborem aquilo que já pensamos evitando, como mencionado acima, as que o invalidem.

O que a princípio é um “mecanismo” de tomada de atalhos realizada por nosso cérebro no intuito de lidar com as diversas demandas cotidianas, herança muito provavelmente de um passado remoto onde as ameaças da existência eram maiores, pode nos levar a construir uma visão preconceituosa ou, ao menos, limitada do mundo.

Nossa realidade é uma bolha?

Atualmente, o viés de confirmação (existem outros vieses) tem seus efeitos ainda mais intensificados graças aos algoritmos utilizados nas redes sociais e na internet como um todo, já que estes filtram e selecionam dados que refletem nossas escolhas mais utilizadas anteriormente, criando aquilo que vem sendo chamado de “bolha”.

É um circuito retroalimentado que, aos poucos, tende a limitar nossa visão de mundo, reduzindo-a a meia dúzia de certezas absolutas e incontestáveis, limitando assim o progresso de nosso pensamento em direção a novas convicções bastando, pra isso, que o dado que chegue a nós esteja em conflito com o que já pensamos.

O fato é que a frase “a gente acredita no que quer acreditar” não é de todo errada. Há motivos importantes pra isso. Questões de necessidade mesmo, ampliadas pelas vertiginosas mudanças geradas pela virtualização da realidade e a utilização cada vez mais intensa destes aparatos a qual, quase todos nós, nos expomos diariamente.

Mais uma vez, podemos afirmar que o conhecimento, a tomada de consciência em relação a um possível problema que nos afete, é um primeiro passo inevitável para sanar ou ao menos conseguir uma redução de danos.

Não se trata de não acreditar mais em nenhuma de nossas crenças. A desconfiança generalizada em relação às nossas opiniões e como elas se formam pode, eventualmente, se transformar em um tipo de pensamento paranoico. Mas, a consciência de que há uma tendência natural a buscar abrigo nas certezas, alimentadas por dados que apenas as confirmem, pode ser de grande auxílio.

——-

Para saber mais sobre estes e outros assuntos, inscreva-se e acompanhe o Canal Mente Minimalista no YouTube.

Comentários

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on telegram
Share on pinterest