Gianini Ferreira
Explicar o que é minimalismo em sua origem, corrigir possíveis distorções e relacioná-lo com um estilo de vida mais consciente é o que pretendo fazer nesse artigo.
A proposta original do minimalismo é ter e usar o suficiente, livrando-nos do excesso de coisas, afazeres e informações que roubam a qualidade do nosso tempo de vida.
O que é suficiente para viver? Cada um é quem sabe, pois o minimalismo não é um conjunto de regras que impõe o que cada um deve ter e em qual quantidade. Antes de tudo, é um caminho pessoal de transformação baseado no conjunto de valores que a pessoa define para si.
A ideia parece simples de entender. Contudo, com o crescimento do movimento minimalista como estilo de vida, muitas pessoas estão complicando a sua interpretação. E, se complica, já começou errado, não é mais minimalismo. Portanto, vou descomplicá-lo.
A má compreensão do que é minimalismo tem criado um grupo que pratica o que chamo de Minimalismo de Conveniência, ou seja, distorcem a ideia original para encaixá-la em suas crenças. Além disso, transformam o minimalismo em algo utilitário para extrair vantagens pessoais. O oposto de quem pratica o Minimalismo Autêntico.
Para entender melhor e corrigir possíveis equívocos, vamos começar por uma visita breve às origens do minimalismo.
Origem do minimalismo
O minimalismo iniciou-se como um movimento artístico e cultural nos Estados Unidos, no começo da década de 1960. Atribui-se como precursores do movimento os artistas Sol LeWitt, Frank Stella, Donald Judd e Robert Smithson.
A palavra minimalismo tem origem na expressão inglesa “Minimal Art”
Essa expressão faz referência aos movimentos estéticos, científicos e culturais que surgiram em Nova York, entre o fim dos anos de 1950 e início da década de 1960. Entretanto, a palavra “minimalismo” só foi usada pela primeira vez em 1966 pelo filósofo e crítico de artes Richard Arthur Wollheim (1923- 2003), que acompanhava as tendências de contra-cultura nas artes neste período.
Sintetizando o que é minimalismo na arte
Do ponto de vista artístico, ele caracteriza-se pelo poder de síntese, de modo a revelar a originalidade e simplicidade da obra, levando o observador a conectar-se com a essência, o estado cru da expressão artística. Na prática, são utilizados pouquíssimos elementos, materiais e cores com o objetivo de deixar a obra mais limpa e natural possível.
Estilo de vida minimalista
Como estilo de vida, importamos e adaptamos as características descritas do movimento artístico que deu origem ao minimalismo para desenhar uma maneira simples de viver. Por exemplo, uma casa com menos elementos, materiais e cores de modo a revelar a originalidade e valorizar o espaço, deixando-o mais fluído, funcional e sóbrio.
Como na arte, o caminho minimalista nos leva mais próximo do que é essencial para viver. E, consequentemente, ajuda a nos conectarmos com a nossa essência. Desta forma, ganhamos uma mente limpa e uma sensação de bem-estar incrível.
Na prática, a ideia é que quanto menos coisas tivermos para cuidar, menos preocupação teremos, ou seja, menos energia mental será gasta com o que não é essencial.
Armadilha social
Enquanto algumas pessoas mantém em suas vidas os bens materiais apenas para atender à expectativa alheia em busca de aceitação, no minimalismo mantemos em nossa vida somente aquilo que é valor para nós. Para ajudar a sair dessa armadilha, gosto de fazer a seguinte pergunta: O que te faz feliz? Essa é uma pergunta-chave para descobrimos o que é importante para nós.
Coerência e leveza no caminho
A coerência com o estilo de vida minimalista deve estar baseada nas premissas que o norteiam pois, quanto mais coerentes formos, mais leve a nossa vida será.
No minimalismo não existe a necessidade de carregar o rótulo de minimalista. Aliás, o que menos se quer no minimalismo é “carregar” alguma coisa. Mas isso é bem pessoal. Eu, por exemplo, não me importo. Pelo contrário, abracei-o como uma causa e tento disseminá-la todos os dias por meio de textos, vídeos e outras pílulas digitais.
A origem da expressão “Menos é Mais”
A expressão Menos é Mais foi criada pelo arquiteto alemão naturalizado americano Ludwig Mies van der Rohe. Ludwig foi professor da Bauhaus e um dos criadores do que ficou conhecido por International style, onde deixou a marca de uma arquitetura que prima pelo racionalismo, pela utilização de uma geometria clara e pela sofisticação.
Aplicação da ideia Menos é Mais
Menos é mais, essencialmente aplica-se à duas dimensões básicas: espaço e tempo. Eu falo sobre isso em um vídeo no meu canal no youtube, caso queira assistir.
“Menos é Mais” na dimensão espaço
Ao removermos o excesso de tudo o que é material em nossa vida, ganhamos mais espaço. E quando fazemos isso, pegamos o caminho de volta. O que isso significa? Talvez, como eu, em algum momento você tenha aderido à ideia de que a felicidade vem por meio das coisas que adquirimos. Pegar o caminho de volta é quebrar essa crença e reformular a nossa vida, colocando-a em outra direção.
Deixe-me ilustrar essa ideia com um exemplo pessoal.
Eu tenho 48 anos e vim de uma família simples. Apesar do terreno ser de um bom tamanho, característica das moradias antigas, a casa era pequena e espaço era o que menos tínhamos. Da infância até a adolescência, eu dividi um quarto com meu irmão, dormíamos em um beliche. Na vida adulta, assim que tive condições fui morar sozinho. Ufa, liberdade e mais espaço. Contudo, conforme vamos ocupando o espaço com coisas, ele vai diminuindo. E, aos poucos, começamos a sentir a necessidade de ir para um espaço maior. Assim também acontece quando casamos, pois o espaço agora passa a ser ocupado por “coisas” de duas pessoas. O meu exemplo pessoal encerra neste ponto porque ainda não temos filhos.
Para quem tem filhos, nem preciso dizer o que acontece. Já nos planos da gravidez, a neurose começa. A conversa é mais ou menos assim: se vamos ter filhos, precisamos mudar para um lugar maior. Ah, também precisamos de um carro maior. E por aí vai.
Felizmente, mesmo antes de ter filho, há alguns anos atrás, todas essas fichas caíram e eu encontrei o minimalismo. Enfim, peguei o caminho de volta. Um dia escreverei um texto relatando a minha experiência com o minimalismo.
No exemplo acima, pegar o caminho de volta é repensar a vida reduzindo tudo o que é desnecessário, voltando para um espaço menor, mais saudável, econômico e funcional. Um espaço que não tire o meu sono para ter que sustentá-lo.
“Menos é Mais” na dimensão tempo
Ao reduzir as coisas, além de ganharmos espaço, automaticamente ganhamos tempo livre para fazer coisas que nos dão prazer, ou seja, reduzimos coisas e afazeres que não agregam valor. Veja alguns exemplos:
- Com menos móveis e coisas pela casa, a limpeza se torna mais fácil e mais rápida.
- E se casa é pequena, ou do tamanho suficiente que nos atenda, reduz ainda mais o trabalho e a organização.
- Com menos roupas, gastamos menos tempo escolhendo o que vestir e menos tempo para lavá-las e passá-las. Aliás, com o tempo e um um pouco de técnica, aprendemos que a maioria das roupas não precisam ser passadas.
- Com menos tempo dedicados a afazeres rotineiros e sem valor, ganhamos mais produtividade naquilo que é importante. Por exemplo, reduzir o tempo nas redes sociais para sobrar tempo para ler um livro e adquirir “mais” conhecimento.
- Este último, muitos vão gostar: reduzir tempo com o trabalho e ganhar mais tempo para viajar, estar com quem amamos e divertir-se.
Fomos moldados após a revolução industrial a dedicarmos 1/3 ou mais do nosso dia ao trabalho. Mesmo que tenhamos paixão por aquilo que fazemos, é tempo demais dedicado ao trabalho. Costumo dizer que nós não somos o nosso trabalho, ele é uma das áreas da nossa vida. Para isso, precisamos reconhecer crenças limitantes e reformulá-las. Eu ensino como fazer isso no meu segundo livro, Mindset de Mudança disponível na Amazon. Você também pode ler um pouco sobre Mindset em um artigo que escrevi clicando neste link.
Alguns cuidados:
Além de explicar o que é minimalismo, precisamos entender o que não é minimalismo. Logo abaixo estão as confusões mais comuns:
Minimalismo não é substituição;
Minimalismo não é privação;
Minimalismo não é organização;
Minimalismo não despreza as coisas;
Nenhum outro "ismo" representa o minimalismo;
Pobreza ou riqueza não definem um minimalista.
No vídeo de 2 minutos que está abaixo, eu explico o primeiro item: minimalismo não é substituição.
A história do Havaí
Um dos meus lemas no minimalismo é trocar coisas por experiências. Para ilustrar um exemplo prático, nós vendemos o nosso carro em 2017 para usar esse recurso na hora certa para realizar um sonho. E, em 2019, eu e minha esposa tivemos a oportunidade de conhecer 3 ilhas do Havaí. Sendo que em Kauai, a ilha mais bela de todas, na nossa opinião, optamos por fazer um passeio de helicóptero.
Veja o que ouvimos de algumas pessoas: “Como pode? Afirmam ser minimalistas mas estão viajando pelo Havaí. Eu queria ser minimalista desse jeito”. Como já leu este artigo até aqui, eu te pergunto: O que uma coisa tem a ver com a outra? Desde 2017, vivemos sem carro e continuaremos assim enquanto pudermos. Todos os custos que um carro pode gerar são convertidos para a nossa conta da felicidade: viajar! – Fim da história.
Método minimalista
Para finalizar, eu entendo o minimalismo como uma ferramenta para simplificar a nossa vida. Como contribuição, deixarei um método que você pode aplicar. E como os acrônimos nos ajudam a fixar uma ideia, eu criei o método CASE – Consciência, Autonomia, Simplicidade e Estética.
Método “CASE”
- Consciência – várias razões podem levar alguém até o minimalismo, contudo, o próximo passo é criar consciência sobre o que é minimalismo, repensando a vida e o nosso impacto no mundo. A mudança deve ocorrer primeiro na mente.
- Autonomia – aprender a exercitar o poder de escolha e a liberdade. Liberdade para dizer não sem culpa, liberdade para recusar as pressões do consumismo e liberdade financeira para desenhar uma vida que nos faça feliz.
- Simplicidade – simplificar tudo o que for possível para ter uma vida mais prática, funcional e econômica. Com isso, descobrir qual é o custo mínimo para viver de forma mais leve e presente.
- Estética – o belo está em tudo, sendo um elemento crucial de satisfação e felicidade humana. O belo proporciona bem-estar. O belo existe para ser contemplado, não ostentado. Assim deve ser com a nossa casa, roupas, viagens, atividades etc. Encher a nossa mente com a beleza da simplicidade faz bem para a nossa saúde mental.
Concluo este artigo com a expectativa de ter esclarecido o que é minimalismo e, ao mesmo tempo, inspirado você a ingressar e/ou continuar por este caminho. O projeto digital Mente Minimalista vai além deste blog, siga-nos pela mídia social de sua preferência.
Gostaria muito de ler o seu comentário.
Lembre-se: A vida não é sobre o que ou o quanto você tem, mas sim sobre quem você está se tornando durante a caminhada.
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Gianini é autor do livro “Mente Minimalista” e diretor do documentário homônimo disponível no YouTube, que já ultrapassou 700 mil views em poucos meses. Tem como missão ajudar as pessoas a criarem uma vida simples e significativa. O autor aderiu ao minimalismo em 2015 em busca de uma vida mais leve e conectada ao presente. Paulista, casado, vive atualmente em Ilhabela no litoral norte de SP, com a esposa Patrícia Herrera; e a Dolores, uma vira-lata adotada em 2018. Além de fotografia, curte demais escrever, pedalar e nadar.
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